segunda-feira, 11 de julho de 2011

Etnografia acadêmica da Praça Getúlio Vargas na Mangabinha

O espaço público urbano é um contexto de mediação através do qual as identidades sociais, as práticas e as imagens socioespaciais podem ser criadas e contestadas, simbolizando quer a comunidade, quer a sociedade e a cultura mais abrangente, na qual ele se integra. Fazendo parte do conhecimento que se tem da cidade, contribui para se pensar a relação entre espaço, cultura e sociedade. É, portanto, suporte para a manifestação de prestações e práticas pessoais, sociais e culturais, atos de resistência e de dominação, conflitos, memórias, mudanças, imagens, identidades, encontros; como um espaço que é constituído por esses mesmos dramas (Carr et al., 1995; Crouch, 1998; Fyfe, 1998; Low, 2000b; Noschis, 1984).
            A referida etnografia destina-se na apresentação da Praça no Bairro da Mangabinha, no município de Itabuna, região sul da Bahia.
Itabuna é um centro regional de comércio, indústria e de serviços, juntamente com Ilhéus. Sua importância econômica cresceu no Brasil durante a época áurea do cultivo de cacau, que por ser compatível com o solo da região levaram-na 2º lugar em produção no país, exportando para os EUA e Europa.

Depois de grave crise na produção cacaueira causada pela presença da doença conhecida como vassoura-de-bruxa, a cidade tem buscado alternativas econômicas com a ajuda do comércio, da indústria e da diversificação de lavouras. A cidade é um importante entreposto comercial do estado, situada às margens da BR-101.
O bairro da Mangabinha surgiu em 1934, quando João Mangabinha Filho em 1907 comprou a Fazenda Burundanga e iniciou a construção de uma casa grande, logo após ele abriu os pastos, loteou em pequenos terrenos que foram vendidos a preços populares, fundando assim o bairro da Mangabinha, que é situada na região sul da cidade de Itabuna, um dos mais centrais bairros. A Mangabinha passou por várias dificuldades como as enchentes e várias chuvas, por se localizar as margens do Rio Cachoeira, transformando o lugar em riacho.
A Praça Getúlio Vargas, conhecido como Praça da Mangabinha foi criada por Ubaldo Dantas em 1986, após a transferência da feira que era na praça para a lavanderia, na rua Rio Bahia. Hoje, com 26 anos de idade, a praça teve sua última reforma na estrutura há 3 anos e as manutenções do espaço público são realizas pelos parceiros associados do comércio do bairro.
A praça descreve-se da seguinte forma: situada entre as ruas Getúlio Valgas, Nossa Senhora das graças, Rua Rio Bahia, nessas ruas funcionam lojas comerciais como Petshop, Farmácias, Distribuidora de Bebidas, Bares, Padaria, Salão de Beleza, Loja de Material de Construção, Frigorífico, Loja de som de carro, oficina automotiva, Moto táxi, Lanchonete, Boteco, casas residenciais e ponto de ônibus. É arborizado, plano, com o chão cimentado, possui bancos, com monumentos de Jesus Cristo e uma águia na cor verde, a noite são armadas barracas de lona para a comercialização de alimentos, possui um quiosque de bomboniere, ponto de táxi e ponto de ônibus com rota para os bairros da Califórnia, Centro Comercial, Ferradas, Urbis IV e Jorge Amado e Jardim Primavera.
A observação teve como objetivo de análise da praça Getúlio Vargas, bairro da Mangabinha como espaço de sociabilidade entre os seus moradores, nos dias de quinta, sexta e sábado no período de maio e junho, das 17h às 22h. Foi utilizado também entrevistas com os comerciantes e moradores do bairro, permitindo-nos resultados fidedignos na observação.
É notório que o local onde a praça situa-se é de grande fluxo nos horários da pesquisa, por ter um ponto de ônibus e ser um local central no bairro, onde os moradores que trabalham, transitam durante esse tempo vindos do trabalho, escolas, creches, igrejas e encontros sociais. Observamos também que as entidades do bairro fazem encontros sociais, se tornando um espaço de acessibilidade a todos os moradores e de entrelaço de culturas, ideais e conhecimento.
O comportamento em geral das pessoas consiste no vai e vem de adultos, crianças, adolescentes, jovens, idosos, bichos de estimação, que no seu cotidiano permeiam por este local, fazendo com que aumente o tráfego e a economia local, além das relações sociais que o espaço proporciona.
A divisão social dos grupos que permeiam a praça é da faixa etária entre crianças, jovens, adultos e idosos. As crianças vão à praça acompanhadas pelos pais e/ou responsáveis no sentido de ter acesso ao parque público que é a atração para a diversão delas, elas também desfrutam dos doces que são comercializados, construindo uma relação social de acordo a idade. Os jovens vão com a intenção de construir amizade, namoro, bate papo sobre suas experiências no dia-a-dia, além das igrejas que promovem eventos que chamam atenção a esse grupo. Os adultos para o consumo, rever os amigos, levam as crianças, jogam dominó, baralho, jogo do bicho, namoram, dialogam e diversão. Os idosos não são tão frequentes durante o horário da observação, pois eles vão geralmente para o consumo na padaria e farmácia, a presença dos demais os deixam inibidos nesse horário para eles transitarem, pelas devidas dificuldade físicas e questão de segurança.
A praça representa para os moradores um local de comercialização que os trabalhadores do local optam para o sustento familiar, pois a economia em geral do bairro é de baixa renda e o desemprego entre os moradores é significativo. A socialização acontece de forma natural, onde os moradores colocam o papo em dias, conhecem novas pessoas, namoram, articulam, projetam, retratam a vida de outras pessoas, propagam suas crenças e doutrinas.
Na praça há um parque infantil que possui problemas estruturais ao uso, porém crianças ainda utilizam para o lazer. As grades estão quebradas, alguns brinquedos não em condições de uso como a escorregadeira da cor azul e o balanço da cor laranja, assim as crianças utilizam os brinquedos que estão apropriados ao uso, como a escorregadeira da cor laranja e o balanço azul. A iluminação é precária na área do parque infantil, ficando só a parte do comércio central da praça e o ponto de ônibus iluminado, com luzes amarelas escuras.
O ponto de táxi fica situada ao lado, na Rua Nossa Senhora das Graças, com a frota de três carros que estão em bom uso, com o alvará da Prefeitura Municipal. Os taxistas são do gênero masculino, faixa etária de 45 anos que atendem a população do bairro.
No centro da praça os próprios moradores dispõem de um comércio de comidas como churrascos, frituras, sanduíche natural, cachorro quente, acarajé, pizza, bebidas e bomboniere a população que por ali passam, aumentando o fluxo de pessoas e interesses. É um local estratégico onde os próprios bancos da praça se tornam um espaço de alimentação e confraternização. O aroma das comidas se espalha pela praça, sendo um convite aos moradores e visitantes a degustar dos alimentos comercializados. Assim, é perceptível a economia local, onde as pessoas trabalham para ter o sustento familiar, são trabalhadores autônomos que estrategicamente montam as barracas e seus equipamentos que, com a necessidade fazem girar a economia local.
Em uma entrevista realizada com um comerciante da praça, o churrasqueiro, percebemos a importância do espaço de socialização em sua vida, pois é através dele que a sua vida economicamente cresceu, onde ele trabalha todas as noites na praça há 2 anos e desse trabalho pôde comprar uma casa e brevemente um carro. Assim, as relações sociais construídas nesse local, em seu grande fluxo de pessoas, constrói através da informalidade um sonho, no vai e vem da população, na conversa, na comodidade, que degustam o churrasco, girando e crescendo a economia.
Outro tipo de comércio também na praça da Mangabinha é o moto táxi, onde esta categoria faz valer as necessidades de transporte do bairro, em sua maioria são jovens moradores, que por outros motivos de políticas públicas não conseguem empregos legais, partindo ao trabalho autônomo. É perceptível que são jovens com idade entre 18 a 35 anos, com escolaridade 2º grau, gênero masculino e pais que procuram de algum modo sustentar seus filhos economicamente. Este tipo de comércio em sua grande maioria provoca sérios tipos de transtorno aos moradores do bairro e até mesmo da cidade, como a segurança pública, por não ser um grupo organizado municipalmente e legalizado.
No bairro, há entidades escolares e religiosas que atendem aos moradores e bairros circunvizinhos, onde para os seus encontros, a praça se torna um local adequado, por se situar no centro do bairro. As igrejas buscam através deste local, levar suas doutrinas e crenças, através de missas, cultos, louvores, gincanas... deixando o local com uma frequência crescente de público e de relações sociais, assim como as escolas públicas e particulares do bairro, que fazem encontros para propagar mais a educação e cultura aos seus moradores e reconhecimento enquanto entidade da comunidade local.
A Creche Santa Maria Goretti, em particular, que situa-se no bairro desenvolve projetos sócioeducacionais que visa a integração entre a família e a escola, além de proporcionar momentos culturais como caminhadas e apresentações cívicas havendo interação com as demais escolas na praça. As famílias atendidas pela Creche usam comumente a praça como referencia para a locomoção até a creche e/ou da creche para a residência, nesse movimento percebe-se a troca de informação através do diálogo e experiências do cotidiano.
É nessa praça que os professores e os demais funcionários para o suporte educacional tem um ponto de referencia para se locomover até as escolas e outros eventos ligados a educação como jornadas, reuniões, caminhadas, desfiles, manifestações públicos ligados a cidadania. Assim é observado que a praça se torna um ponto de referencia e partida a outros destinos, além do local ser uma rotina para esses frequentadores.
É Historicamente reconhecida a praça do bairro da Mangabinha como o ponto de encontro dos cidadãos que almejam ingressar na vida política no contexto partidário, reunindo-se em grupos onde trocam ideias com pequenos grupos e lideranças do bairro, para então através de ações estratégicas, pesquisarem e perceberem as  necessidades sociais daquela população através de discursos e promessas que compõem a dinâmica. A população se aglomera fazendo desses momentos a oportunidade de se sociabilizarem, participando do evento com entusiasmo, que opinam, articulam, planejam e propõem execução das propostas, além de cobrar os resultados. Os políticos aceitam conscientemente tal situação como uma reação natural, pois os mesmos se colocam a disposição para ouvir as promessas discursos e propostas de ações que visem à melhoria na qualidade de vida dos cidadãos. Observa-se que independente dos resultados das eleições, todos continuam próximos, seja nos bancos da praça, pelo parque, nas soleiras das casas, comercialização de alimentos, ponto de ônibus ou de comercio formal, fortalecendo a relação social.
A partir do contato para a elaboração da etnografia, com a entrevista, percebemos a insatisfação da população que transitam pela praça e dos comerciantes, na falta de compromisso da administração pública com o espaço, pois há sérios danos estruturais, lixos e falta de segurança na praça, que inibem das pessoas se socializar no local. A manutenção seria de grande valia, pois um local público é um espaço de socialização, criação de identidade e práticas culturais que favorecem a construção cultural e intelectual de todos.

ESTUDANTES DE SERVIÇO SOCIAL, III SEMESTRE - UNIME

DANIELLE VALETE, CEILMA PASSOS E CAMILA BARRETO
ETNOGRAFIA ACADÊMICA DA PRAÇA GETÚLIO VARGAS - MANGABINHA


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